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Tempos em Família

  • Por CompletaMente
  • 22 jan., 2023

Texto por Joana VazEspecialista em Saúde Pública


Em 2013 eu e o Tiago casámos e no mês seguinte pusemos as mochilas às costas e fomos viajar 14 meses pela Ásia e Oceania. Voltámos já mais “carregados”, com a nossa primeira filha na barriga e com a certeza que voltaríamos a fazer uma viagem de longa duração quando tivéssemos filhos. Em 2022 iniciámos este projeto de viagem em família, em que queremos conhecer melhor o nosso país e explorar o mundo da educação mais inovadora em Portugal. Alugámos a nossa casa e o Tiago deixou o seu trabalho pago para se juntar a mim neste outro que não tem horas, nem férias, nem é pago em numerário. Para nós a vida familiar deve ser de conexão e presença, com momentos de riso e bem estar, mas também momentos de colo, de vulnerabilidade, de desregulações e explosões sem julgamentos e muitos momentos de empatia. Se é sempre assim? Claro que não.

Já fomos ambos “pais que ficam em casa” e portanto temos boa consciência do que é passar os dias, muitos dias, com as nossas crianças. Da beleza e intensidade que é. Temos consciência e prática. Das dinâmicas, das rotinas, dos programas.

Do que funciona, do que não funciona. Dos planos furados, dos atrasos, das sestas inesperadas e das não feitas que deixam a criança prestes a rebentar por tudo e por nada. Do quanto podemos esticar a corda, das crianças e a nossa.

E esta experiência é super útil para uma viagem onde

passamos tanto tempo todos juntos. Diria mesmo que torna tudo muito mais simples.

Viajar possibilita estarem ambos os pais presentes e que haja ainda mais momentos significativos entre os vários membros da família. Permite que nos vejamos melhor, que nos conheçamos melhor, no bom e no desafiante. Que percamos mais a paciência e que tenhamos “falta de espaço” para arejar. Neste momento somos 5, com idades (37, 36, 7, 2, 7m) e  necessidades todas diferentes e portanto vamos fazendo malabarismo com o tempo para que a nossa convivência e crescimento seja saudável e prazerosa.

Dedicamos tempo às tarefas rotineiras de uma casa, por vezes só um adulto, outras todos juntos: compras, cozinhar, lavar roupa, limpar uma casa quando chegamos e vamos embora. E isto, como quem passa muito tempo em casa sabe, ocupa uma grande porção do tempo! Temos tentado simplificar, temos muito menos roupa, comemos mais vezes fora, vivemos mais num caos sem grandes arrumações.

Outro tempo que não podemos descurar (sempre que o fazemos vemos os efeitos nefastos e o quão menos presentes estamos com o resto da família) é o tempo pessoal de cada adulto. Gostamos muito das nossas 3 filhas mas precisamos de tempo de calma.

Precisamos da nossa individualidade e de fazer o que nos nutre e restabelece o equilíbrio interno. No mínimo uma manhã/tarde para cada um. Também acontece termos esse tempo, mas queríamos fazer tanto que acabamos a nossa manhã em frustração…

O tempo em casal também é fundamental e esse tem sido um desafio de encontrar, mas costuma ser quando as crianças estão a dormir, se conseguirmos também sobreviver aos adormecimentos. E de resto aproveitamos todos os possíveis momentos para conversar.

Conversamos e debatemos muito mesmo. Só assim nos conseguimos alinhar e emparceirar, continuando lado a lado neste maravilhoso e árduo caminho que é construir uma família. Para além de tempo de casal, as noites também servem para reuniões de viagem, planeamentos, contactos. Precisamos de decidir onde vamos pernoitar, onde vamos passear, que projetos vamos visitar e que atividades fazemos por casa.

Tentamos também ter tempos mais individuais com cada uma das nossas filhas, aproveitando as diferentes horas do deitar, se uma ou duas estão na sesta ou saindo um dos adultos só com uma. Temos muitos dias de passeio, onde tentamos desligar das

tarefas todas e estar realmente presentes. Brincamos e adaptamos muito. Não vale a pena ir com uma lista de coisas para ver e fazer porque depois acabamos frustrados. Muitas vezes uma volta na vila entre brincadeiras e fotos faz o dia. Outras vezes fazemos programas e visitas específicas, como ir a um Centro de Ciência Viva, um museu, a biblioteca, um parque, uma praia ou uma comunidade/projecto educativo.

Em cima de tudo isso temos uma filha em ensino doméstico mas que para já não tem momentos específicos de aulas. Planeamos e muitas vezes sai tudo furado. Uma(s) noite(s) mal dormida, uma desregulação de uma criança, ou duas, ou 3.

Um adulto frustrado… o importante é sempre trazer perspectiva e ver o plano maior. Somos 5 pessoas quase permanentemente juntas. Vemos o melhor e pior de todos, vemos a sua autenticidade sem filtros e isso é tão intenso. E é bom também. Todos os dias treinamos mais a paciência, como confortar o outro, como o provocar mais e menos. Tentamos ser um porto de abrigo para estas 5 pessoas em cru, para que possam ser sem julgamento. Fartamo-nos de falhar. Há dias maus em que nos zangamos e berramos. Mas voltamos sempre a tentar ser mais pacientes e compreensivos uns com os outros. Isto ao mesmo tempo que planeamos e passeamos. Nem sempre é fácil, quase nunca é fácil, mas vale tanto a pena estes tempos todos em família.

Se quiserem saber mais sobre nós, sobre o nosso projecto ou acompanhar as nossas aventuras, visitem o nosso site: www.educaremviagem.com


Este artigo faz parte do Volume 8 da Revista CompletaMente, leia a versão online aqui.
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